Mulheres no cinema: Retrato de uma Jovem em Chamas (2019)


Como última terça do mês, e prometido, hoje vou falar sobre o figurino de um dos filmes mais bonitos que eu assisti esse ano: Retrato de uma Jovem em Chamas (2019, dir. Céline Sciamma).

A sinopse do filmes diz que ele se passa durante o século 18, quando a jovem Marianne, uma pintora, é contratada para fazer um retrato de casamento de Héloïse sem que essa saiba e as duas se tornam próximas, desde de o momento em que Marianne chega até um tempo antes do casamento de Héloïse. Falando assim o filme não parece lá muito interessante, mas, além dum uma fotografia e direção maravilhosas e interpretações belíssimas, o filme é delicado ao mostrar a aproximação e a construção do relacionamento das duas.

Qualquer história de amor contada no cinema, atualmente, é muito banal, muito rápida e poucas mostram o crescimento do amor através de pequenos gestos, frases e detalhes que nunca serão esquecidos, independente do que venha a acontecer com o casal. Na minha opinião, pequenos gestos sempre importarão muito mais, é algo que fica somente entre as pessoas envolvidas no relacionamento e que, mesmo após anos, esse sendo repetido sempre fará um lembrar do outro, é algo extremamente pessoal quase como uma mensagem secreta (não tenho como dar maiores detalhes senão darei um spoiler do filme).


Além da linda história, o filme conta com um figurino digno do século em que a história se passa e, um ponto super a favor (na minha opinião, claro) é que as roupas SE REPETEM! Se um filme tenta ser o mais fiel possível a época, não tem lógica alguma as personagens utilizarem diferentes modelos de roupas (a Revolução Industrial estava começando no século 18, tecidos eram caros e as roupas eram feitas de forma manual).


Por alto, o filme deve conter uns 3 vestidos das personagens principais (o azul e o verde de Héloïse e o vermelho de Marianne). Tanto o vestido azul como o vermelho seguem a moda da época, eles possuem a silhueta um pouco mais folgada (em uma das cenas do filme é possível ver Marianne com um corpete que parece um pouco mais folgado), a saia é um pouco armada na altura do quadril e há o tecido branco aparecendo no decote arredondado que é uma parte da chemise (no século 18 não era tão mais comum essa parte aparecer na vestimenta que, alguns séculos antes, quanto mais limpa e branca essa chemise fosse era para identificar que a “pessoa estava limpa”, já que banhos não eram tão comuns). É importante notar, e algo que a própria figurinista falou, que as mulheres naquele período eram “modelos e prêmios”, portanto não havia a necessidade de um vestido que permitisse uma movimentação fácil das mulheres, por isso existe bolso, que eram comuns aquela época já que a bolsa viria alguns anos mais tarde, no vestido vermelho de Marianne, que dá uma maior fluidez a ela.







Quanto ao vestido verde, que é a peça central e de maior destaque na história, ele é um modelo de Robe (provavelmente à la française), com a cintura mais marcada e afunilada, a saia muito mais amplas que os outros dois vestidos e com a famosa “prega de Watteau”. Como dito acima, os vestidos na época eram para “prender” as mulheres e esse modelo parece fazer bem isso.



O figurino perfeito fica por conta da francesa Dorothée Guiraud que tem um extenso currículo na área e para a criação dos vestidos ela disse que se influenciou em alguns pintores da época, como Jean-Baptiste-Siméon Chardin, Adélaïde Labille-Guiard, e Élisabeth Louise Vigée Le Brun.

Share:

0 Comments