Indicados ao Oscar de melhor figurino: Pinocchio (2019, dir. Matteo Garrone)


Antes de começar a assistir os filmes indicados a melhor figurino eu tinha como favorito Emma, porém Pinocchio mudou completamente a minha torcida (ainda que eu ache que não levará o prêmio). Sendo bem sincera, eu nunca tinha assistido o desenho, claro que sempre soube a famosa história do garoto de maneira que mente e o nariz cresce, mas adentrar na história foi diferente (não, eu não sei dizer o quão igual está ao clássico da Disney).

Muito mais do que a história já conhecida, o filme conta a história de uma criança ingênua, que nunca vê maldade nos outros e que quando mente é muito mais para não levar bronca do que para levar vantagem em alguma coisa. Foi interessante ver uma criança realmente representada realmente como criança e, em muitos momentos, fiquei aflita pelas escolhas erradas que ele fez. Não sei se eu recomendaria o filme para menores de 8 anos, mas é uma opção interessante para filme infantil diferente do formato Disney, o filme não é colorido, nem muito divertido, na verdade ele é bem pobre, sujo, fazendo com que a gente se ambiente no século XIX.

O filme é completamente italiano, inclusive em algumas reviews é possível encontrar reclamações sobre a confusão que dialetos e sotaques italianos diferentes podem causar para quem assiste no audio original, e é foi uma das coisas que me chamaram atenção na indicação, fazia tempo que eu não via nas categorias maquiagem e figurino indicações que fugissem de produções americanas e inglesas (e será uma pena se o filme não ganhar em nenhuma das duas).


 

Inspirado no livro “As Aventuras de Pinóquio” do italiano Carlo Collodi lançado no final do século XIX em uma serie semanal e, como a época, o figurino do filme tem muito desse momento. O figurinista responsável pelo filme é Massimo Cantini Parrini, essa é sua primeira indicação ao prémio, e para o filme ele fez um extenso trabalho de pesquisa: ilustrações da primeira edição ilustrada do Pinóquio, foi atrás de fotografias da época para saber como era aquele cotidiano, visitou museus focando no movimento artístico Macchiaioli e, além dessa vasta pesquisa, ele foi na própria coleção de roupas.

Para a vestimenta do Gepeto, o figurinista procurou fazer roupas com aspectos velhos, para reforçar o quanto ele era pobre sem condições de comprar roupas, pegando um pouco aqui, trocando ali.

 

Com as marionetes do circo, ele utilizou peças de período um pouco anterior além de que, como foi usado muito efeito especial nessas personagens, ele precisou trabalhar um pouco mais para adequar as roupas a esse tipo de produção.


 A dona lesma, ele utilizou de muitos tecidos reciclados e uma paleta de cores que transmitissem a calma e serenidade que o Pinóquio estava atrás (as roupas dela lembram as de maternidade utilizadas no século 19).  


Com a fada azul, que aparece como criança e depois adulta utilizando as mesmas roupas, ele quis identificar que ela estava entre o mundo dos vivos e dos mortos, por isso a utilização do tecido translucido e a cor cinza. Além disso, é possível ver a inspiração do período romântico do século 19 no detalhe do vestido, assim como o decote em v, a saia com bainha e a cintura marcada.


Para o personagem principal, que ganha roupas feitas do cobertor do seu pobre pai Gepeto, o Massimo Cantini Parrini utilizou a coloração vermelha, pois, segundo ele, contrastava e chamava bastante atenção em relação ao restante das cores do filme (como dito anteriormente, o filme tem um aspecto muito pobre) e o vermelho representa todos os sentimentos “amor, raiva, ciúme, inveja, esperança, maldade, mentiras, etc (...) que se escondem na alma de Pinóquio.”



De todos os 5 indicados, pela beleza, trabalho e toda a pesquisa que houve para a construção do figurino, com certeza Pinocchio é o meu favorito.

 

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