Indicados ao Oscar de melhor figurino: Mulan (2020, dir. Niki Caro)

Se Mulan não estivesse concorrendo ao melhor figurino, certamente, eu não o teria assistido, mas fico feliz por ele estar na categoria, pois foi uma surpresa muito boa! Eu não sou fã de adaptações “live action” e achava que com Mulan teria ficado algo ruim como em outros casos e que poderia ter estragado a minha memória de uma das minhas animações favoritas, mas foi completamente ao contrário, ainda que não fosse exatamente fiel ao desenho.

 

O filme é dirigido pela Niki Caro que trouxe alguns elementos do desenho (cenas como a preparação da Mulan para visitar a casamenteira), mas alguns outros ficaram de fora, que na minha opinião foram escolhas inteligentes. A principal ideia, e mensagem, do filme é a honra, principalmente a honra a família, e isso está muito presente e é extremamente bonito. Além disso, a personagem tem que viver apegada aos costumes da época de que a mulher tem que esconder seu poder, tem que ser graciosa, não pode lutar e vive o conflito quase que o tempo inteiro sobre esconder que é uma guerreira mulher ao invés de um homem diante de todo o exército.

Embora o desenho tenha sido voltado para crianças, eu não acho que o filme agradaria um publico novo demais, talvez depois dos 12 anos. E quem é a pegado ao romance entre Mulan e o capitão Lee Shang pode se decepcionar um pouco, mas foi uma escolha bem sábia afastar a personagem de mulheres que SEMPRE tem que ter um par romântico.

Quanto ao figurino ele foi idealizado pela alemã Bina Daigeler (ela trabalhou bastante com o Almodóvar e é responsável pelo figurino da série Mrs. America, uma das minhas favoritas do ano passado), que fez muita pesquisa sobre a cultura e história chinesa, já que para ela era de extrema importância tratar essas questões com respeito. Grande parte do figurino teve inspiração na dinastia Tang e, para sua produção, houve muito trabalho manual, além de auxílio de especialistas chineses (muito utilizado na criação das armaduras do exercito).

Claro que quem sempre ganharia o destaque em figurinos seria a personagem principal, por isso a figurinista foi bem cuidadosa e detalhista. A roupa que Mulan utiliza para “ficar comprometida”, seria um grande destaque, mesmo porque acredito que essa cena no desenho é uma das mais marcantes, então a figurinista criou algo a altura inspirada em uma espécie de vestido que era utilizado na China antes da dinastia Tang.


Para a armadura que Mulan usa ao se revelar mulher, Daigeler fez questão de criar um figurino que refletisse que a personagem estava lutando por ela mesma e se aceitando (para mim é o figurino mais bonito do filme inteiro).

 

Ela teve um enorme trabalho para desenvolver e adaptar os figurinos das armaduras, que eram feitos de couro pintado, amarrados a mão com diversos nós para que não soltassem durante as cenas e luta (sendo necessário duas pessoas para vesti-los nos atores) e também foram feitas 6 versões das armaduras, uma para cada tipo de cena, feitas com diferentes tipos de materiais e pesos.

Um detalhe interessante que Bina Daigeler contou em uma entrevista foi que para as botas ela, na verdade, usou um tênis Stella McCartney e o enrolou couro ao redor dele para disfarçar. A figurinista também contou que houve a criação de cerca de 2000 peças.

 

E dois outros figurinos que merecem muito destacar é o do Imperador e da Xianniang (que aliás foi o mais difícil de ser criado), o qual a figurinista queria demonstrar que ela era uma mulher presa em si mesma.


 

Acho que muito mais do que bonito, o que vale a indicação ao Oscar de melhor figurino para Mulan, é todo o trabalho que foi realizado, toda a pesquisa e respeito que a figurinista e sua equipe se preocuparam em ter com a cultura chinesa.

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